segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dependência da Samsung ainda é dilema para a Apple

A Apple está descobrindo que não é fácil se livrar da Samsung.
Uma prova disso é o esforço dela para encontrar outra empresa, que não sua feroz concorrente Samsung Electronics Co., para fazer os chips que são o cérebro dos seus iPads e iPhones. Em junho, depois de anos de atrasos por problemas técnicos, a Apple fechou acordo com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. para que esta fabrique alguns desses chips a partir de 2014, disse um executivo da TSMC.
image
Apesar do acordo, a Samsung seguirá sendo o principal fornecedor até o fim do ano que vem, disse um desses executivos.
A Apple é um dos maiores clientes da Samsung para processadores e chips de memória. Mas elas concorrem diretamente no mercado de telefones celulares e passaram boa parte dos últimos dois anos brigando nos tribunais por causa de patentes. Nenhuma das empresas quis comentar.
Há dez anos, elas eram parceiras ideais. Aí a Samsung começou a lançar os smartphones que hoje ultrapassam o iPhone em vendas. Ao longo do último ano, os executivos da Apple expressaram preocupação com sua dependência da Samsung, que reduz o poder de negociação da Apple e sua capacidade de usar tecnologias diferentes, segundo pessoas que conversaram com executivos da Apple.
A Apple cortou algumas compras da concorrente sul-coreana. Ela não compra mais da Samsung as telas do iPhone e diminuiu as compras das telas do iPad, dizem fornecedores. A Apple vem comprando mais chips de memória flash — componente essencial para o armazenamento de dados — de outros fabricantes, dizem ex-executivos da Apple e funcionários de outros fornecedores de chips.
Mas a Apple continua muito dependente da Samsung. O microprocessador que controla os iPods, iPhones e iPads é feito pela coreana. Alguns iPads novos ainda usam telas da Samsung, segundo exames feitos por especialistas.
O dilema da Apple é que a Samsung é a maior fabricante de alguns dos mais sofisticados componentes de que ela precisa.
[image]
As alternativas da Apple "não são boas, por isso eles continuam comprando da Samsung", diz Michael Marks, que ensina um curso sobre cadeias de suprimento na Faculdade de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Stanford e é presidente do conselho da SanDisk Corp., que vende chips de memória para a Apple. Além disso, o setor de tecnologia tem hoje poucas grandes empresas com quem fazer parcerias.
O acordo feito pela Apple em junho para começar a comprar chips da TSMC é um marco. A Apple há muito queria fabricar seus próprios processadores e comprou uma empresa de chips em 2008 para começar a projetar ela mesma seus chips. Mas seguiu contando com a Samsung para produzi-los.
Em 2010, a Apple e a TSMC começaram a discutir uma parceria para a fabricação de chips, dizem executivos da TSMC. Em 2011, a Apple pediu para investir na TSMC ou que a empresa dedicasse parte de suas instalações à produção dos chips da Apple, dizem os executivos. O presidente da TSMC, Morris Chang, recusou ambos os pedidos porque a companhia queria conservar sua independência e flexibilidade na fabricação, dizem.
A TSMC pretende começar a produzir os chips em massa no início de 2014 usando tecnologia avançada de 20 nanômetros que deve reduzir o tamanho e o consumo de energia deles.
A Apple não é a primeira a ver uma feliz parceria se transformar em concorrência. Em 1980, a gigante dos chips Intel Corp. aceitou compartilhar sua tecnologia com a Advanced Micro Devices Inc. Depois, a AMD se tornou uma grande concorrente e a Intel passou anos tentando desfazer o acordo.
A Samsung tem razões para manter viva sua relação com a Apple. A expectativa era de que as encomendas da Apple para a Samsung deveriam atingir US$ 10 bilhões em 2012, diz Mark Newman, analista da Sanford Bernstein em Hong Kong. Isso representa uma fatia significativa dos 67,89 trilhões de wons (US$ 59,13 bilhões) que a Samsung teve com o negócio de componentes, que inclui chips e telas. O processador da Apple, do qual a Samsung é hoje a única fornecedora, respondeu por US$ 5 bilhões das compras em 2012, calcula Newman.
A séria relação entre a Apple e a Samsung remonta aos primeiros tocadores de música iPod, na década de 2000. Durante os primeiros anos, os iPods usaram pequenos discos rígidos para armazenar músicas. Mas a Apple queria usar chips de memória flash, que eram mais confiáveis e consumiam menos energia.
O problema é que esses chips custavam caro e os preços podiam ter grandes oscilações. À medida que a demanda pelo iPod disparava, a Apple assinarou um acordo com a Samsung para garantir o fornecimento, segundo pessoas a par da estratégia. Os primeiros iPod Shuffle da Apple com memória flash chegaram às lojas em 2005. A Samsung depois passou a fabricar também os processadores do iPhone, lançados em 2007.
A Apple não estava alheia às ambições da Samsung de concorrer com ela, dizem ex-executivos. A Samsung comunicou à Apple que havia estruturado seu negócio de modo a manter os dois lados separados e prometeu impedir que trocassem informações, dizem ex-executivos e outras pessoas a par do assunto.
Alguns executivos da Apple não gostavam de enriquecer um lado do negócio da Samsung enquanto o outro atacava a empresa americana. Compartilhar com ela informações sobre as previsões de negócios era especialmente doloroso, dizem ex-executivos.
Em 2008, a Apple tirou da Samsung uma parte maior das suas compras de memórias flash, dizem ex-executivos e outras pessoas a par da estratégia. A Apple anunciou em 2009 um pagamento adiantado de US$ 500 milhões à Toshiba Corp. para fornecimentos de memórias flash.
A iniciativa deu resultado. A Samsung, que há cinco anos fornecia grande parte dos chips de memória flash da Apple, hoje responde por menos de 10%, estima Newman, da Sanford Bernstein.
A Apple deixou de usar telas da Samsung no iPhone 4, lançado em 2010. A empresa americana ajudou a Sharp Corp. e a Toshiba Corp., que também fazem telas, a expandir suas fábricas, segundo pessoas a par da situação.
Outras tentativas de alijar a Samsung falharam. Em 2011, quando a Apple estava projetando a terceira geração do iPad, ela pediu à Sharp para produzir as novas telas de alta resolução, diz uma pessoa próxima à companhia japonesa. Mas no lançamento, em março de 2012, a maioria dos aparelhos tinha tela da Samsung. A Sharp teve dificuldades para produzir as telas em massa, diz outra pessoa próxima da empresa.
Em março, a Samsung fechou a compra de uma participação de 3% na Sharp e um acordo para comprar mais telas de LCD dela. O negócio tornará a Samsung o quinto maior acionista da Sharp e também um importante cliente, possivelmente limitando o poder de barganha da Apple.

Matéria publicada em http://ads.tt/77RD

Nenhum comentário:

Postar um comentário